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Rússia e EUA em Negociações: Nord Stream Pode Voltar?

Rússia e EUA em Negociações: Nord Stream Pode Voltar?

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, comentou recentemente sobre as discussões bilaterais entre Rússia e Estados Unidos em relação ao gasoduto Nord Stream. Segundo declarações feitas em um canal estatal russo, há a possibilidade de o gasoduto ser reativado, dependendo do andamento das negociações.

Mas quais são os interesses por trás dessa possível retomada? Por que Rússia e EUA estão dialogando sobre um projeto que foi alvo de sabotagem e sanções? E qual o papel da Europa nesse cenário?

Os Interesses da Rússia

Para a Rússia, a reativação do Nord Stream significa a recuperação de uma fonte crucial de receita. Antes da guerra na Ucrânia, as exportações de gás representavam cerca de 40% do orçamento federal russo. Com a paralisação dos gasodutos, o país perdeu um fluxo significativo de recursos, mas ainda assim conseguiu manter sua economia relativamente estável.

A Rússia também tem interesse em manter uma parceria energética com a Europa, mesmo que de forma limitada. Além disso, Moscou busca consolidar acordos em moedas alternativas ao dólar, como rublos ou outras divisas, reduzindo a dependência do sistema financeiro ocidental.

Os Interesses dos Estados Unidos

Do lado americano, o objetivo principal é reduzir a crise energética europeia. Apesar das divergências entre os aliados da OTAN, os EUA têm interesse em evitar um colapso econômico na Europa, que poderia afetar suas próprias empresas no continente.

Muitas corporações americanas na Europa enfrentam custos elevadíssimos com energia, e a retomada parcial do Nord Stream poderia aliviar essa pressão. Além disso, Washington pode usar essa negociação como uma forma de reforçar sua influência política, mostrando-se como o mediador que resolveu (ou pelo menos amenizou) a crise energética.

O Dilema Europeu

A Europa está em uma situação complicada. Suas reservas de gás estão em níveis críticos (35%), o menor patamar dos últimos três anos. O inverno rigoroso de 2024/2025 esgotou boa parte dos estoques, e a indústria europeia sofre com os altos custos da energia.

Alguns países, como a Alemanha, têm resistido à reabertura do Nord Stream, chamando-a de “suicídio econômico”. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também mantém uma postura firme contra o gás russo. No entanto, a realidade é que a Europa precisa de energia, e as alternativas (como o GNL americano e as renováveis) ainda não são suficientes para suprir a demanda.

A Sabotagem e os Desafios Técnicos

Em 2022, três das quatro linhas do Nord Stream foram destruídas em ataques não reivindicados. A Rússia acusa países ocidentais, mas não há confirmação oficial. Tecnicamente, a reativação é viável, mas politicamente, é um tema sensível.

Se o gasoduto voltar a operar, mesmo que parcialmente (20-30% da capacidade), isso poderia aliviar os custos para a indústria europeia e aumentar as reservas antes do próximo inverno. No entanto, a Europa enfrenta um dilema: aceitar o gás russo e enfraquecer suas próprias sanções ou arriscar uma recessão industrial mais profunda.

Conclusão: O Que Prevalece, a Coerência ou a Necessidade?

Enquanto Rússia e EUA negociam, a Europa fica no meio do fogo cruzado. A pressão americana para que a UE aceite o gás russo (mesmo que de forma limitada) deve aumentar, enquanto a Rússia insiste em pagamentos em rublos ou moedas alternativas.

Se a Europa recusar, a Rússia continuará vendendo gás de forma indireta (via Turquia, China ou Índia), mas a um custo mais alto para os europeus. Se aceitar, terá que lidar com uma crise de credibilidade em relação às sanções.

No final, a pergunta que fica é: a coerência política vai vencer, ou a necessidade econômica falará mais alto? A resposta pode definir o futuro energético da Europa nos próximos anos.

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